Esta fotografia a lembrar o auge da xenofobia nazi foi tirada mesmo por debaixo do edifício onde vivo. Os habitantes de Pequim em geral não expressam o seu amor para com os seus vizinhos do mesmo modo entusiástico com que o proprietário desta superfície comercial o faz mas o sentimento, com mais ou menos intensidade, incluindo o das gerações mais jovens, é o mesmo, a malta não gosta de japoneses. Sessenta anos não é assim tanto tempo para sarar as feridas de uma guerra repleta de barbaridades como o foi a segunda grande guerra, especialmente aqui na Ásia onde os feridos são outros e os medicamentos utilizados nem sempre são os mais adequados. Parece-me interessante deixar aqui algumas reflexões pessoais sobre os porquês desta lenta cicatrização.
A primeira é sobre o orgulho deste gigante que em tempos remotos concluiu que além das suas fronteiras nada de interessante poderia advir (daí o simpático apelido de “bárbaros”), reduzindo os seus contactos com o exterior ao mínimo necessário, abdicando de prosseguir com as grandes explorações marítimas realizadas até então e, mais grave ainda, apagando da memória os conhecimentos científicos adquiridos. A invasão nipónica foi um golpe demasiado forte e difícil de esquecer para este povo orgulhoso do seu passado grandioso. O período entre as perdidas guerras do ópio e o fim da segunda guerra mundial é encarado como um percalço de percurso, sendo a actual fase vista como a recuperação rumo ao lugar que sempre foi seu, a liderança mundial.
Depois temos a bastante criticada (tanto pela China como pela Coreia do Sul) dificuldade do Japão em lidar com o seu passado recente que não tem contribuído nada para a sua popularidade. Assumir os erros do passado, especialmente quando este é recente e pincelado de tons negros não é coisa fácil, devem ser poucos os países ou nenhum que o façam abertamente. No entanto o Japão tem enveredado precisamente pelo sentido contrário, as recentes alterações nos cadernos escolares é algo que não seria tolerado na Europa se a Alemanha procedesse da mesma forma. Reclassificar o massacre de Nanjing (na época capital da China nacionalista) como apenas um incidente é algo comparável à Alemanha negar o Holocausto, aconselho uma vista a este link da Wikipédia a respeito do referido massacre para terem uma ideia da sua real dimensão.
Por outro lado, apesar das palavras bonitas aquando dos encontros políticos, a meu ver, o esforço chinês de educar as novas gerações no sentido da reaproximação tem sido diminuto. Falo obviamente na condição de um recém chegado que, como todos os recém -chegados a um novo país, ainda tem muito por conhecer. Mas há pormenores que saltam há vista e que dão para imaginar o todo. Basta ligar a televisão e fazer uma ronda pelos inúmeros canais para encontrar um qualquer documentário dedicado às atrocidades cometidas pelos japoneses na segunda grande guerra. Não quero com isto dizer que, em nome das boas relações, a história deva ser ocultada, apenas parece-me exagerada a frequência com que este tipo de programas são emitidos. Mais escandaloso é o próprio canal reservado às crianças também não escapar à regra, há uma série de cartoons em que soldados japoneses, os maus da fita, são constantemente ridicularizados. Se calhar exagero mas penso ser característica comum de regimes totalitários, a existência de um inimigo exterior (nem que para isso se crie um) como factor de união do país, como agora o Capitalismo até é boa pessoa talvez o Japão seja o substituto.
A verdade é que por cá, apesar de decorridos mais de 60 anos e de, actualmente, o Japão ser o maior parceiro económico da China, ainda há importantes passos a dar por ambas as partes. Um clima de paz mas com a sombra do xenofobismo por perto, pode, de um momento para o outro, transformar-se numa negra tempestade. Mas isto, provavelmente, é só a minha veia apocalíptica a falar ou, mais provável ainda, o síndrome de encerramento de um post exageradamente longo.
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