De
P.Porto a 7 de Fevereiro de 2007 às 23:20
Muito do que eu queria comentar sobre o seu post já foi dito no comentário anterior que aqui deixou Luis Bonifácio. Ainda assim, mais algumas notas.
A) Convertibilidade da moeda. Certo, esteve suspensa durante 15 dias. E quanto ao descalabro monetário e cambial a que a República arrostou Portugal? Indo um pouco mais longe no assunto, para além da desvalorização brutal do Escudo diante da Libra, a situação foi de tal modo grave que nem metal havia para cunhar moedas, e assim chegaram a circular “cédulas” para substituir as moedas.
B) Analfabetismo É certo que em 1910 havia 75% de analfabetos. E em 1926? Quer arriscar um número ? Procure, e arrepie-se. Aproveito para ir mais longe; um dos primeiros actos da República em termos de educação foi a criação de Univerisades em Lisboa e Porto num tempo em que a Universidade de Coimbra chegava e sobrava. Portanto, imagine-se um país de analfabetos e o Poder a passar as Univeridades de 1 para 3. Boa obra, mas pouco proveito, até porque não foi por isso que passaram a haver mais universitários em Portugal. Agora, é certo que alguém beneficiou. Por exemplo, Afonso Costa foi nomeado lente na Univesidade de Lisboa: já não se pode dizer que não valeu a pena.
C) (1) Aquando das primeiras eleições da República, em 1911, a fraude eleitoral foi de tal ordem que apenas foram eleitos deputados do PRP e alguns poucos independentes. Nestas mesmas eleições os republicanos mantiveram uma das regras eleitoriais que tanto criticaram, justificadamente, ao regime monárquico, isto é, em circulos onde existisse apenas uma candidadura atribuiam-se todos os votos à única lista apresentada. A intimidação era de tal ordem que em 50% dos círculos eleitorais só se apresentaram listas do Partido Republicano Português, logo, não houve eleições, e os deputados assim “eleitos” eram todos do... PRP; As eleições em Lisboa chegaram a estar em risco de acontecer, por desnecessárias, já se vê, mas algum decoro acabou por pervalecer. Aquilo é que foi uma democracia!
(2) Na lei eleitoral de 1913, de Afonso Costa, pela primeira vez se proibiu expressamente o voto das mulheres. A médica Adelaide Cabete votava no tempo da “ominosa” Monarquia. O que é fantástico é que já cheguei a ler na net, e já me foi relatado que se ensina nas escolas, que, com a implantação da República, as mulheres adquiriram direito de voto.
(3) Uma das linhas de força do republicanismo português foi a promessa de voto universal. Nunca cumpriram. Aquilo que mais se assemelhou a voto universal na I República foi a eleição de Sidónio Pais, com cerca de 900,000 votos. Por sinal, foi o único Presidente eleito durante a I República. Assassinado Sidónio Pais, reposto o país nos carris da intolerância e do sectarismo, foi novamente retirado o direito de voto aos analfabetos, isto é, pelo padrões da época, ao Povo. Raramente os historiadores “de serviço” referem isto.
(4) Pode pensar-se que isto foi assim porque era o princípio. Mas não, foi sempre assim, durante 16 anos em que Portugal deixou de ser um Estado de Direito. Veja-se o que aconteceu nas últimas eleições da I República, em 1925: de 2,000,000 de recenceados apenas votaram, ou puderam votar, menos de 290,000. Em Lisboa, a capital da República e do republicanismo, de 600,000 recenceados apenas votaram 24,000; há relatos de listas não aceites e de intimidações para impedir o acesso às urnas de cidadãos que se sabia não irem votar nos partidos do regime. Isto já a I República era um morto-vivo, agora pode imaginar-se, e quem se quiser documentar, confirmar, como foi enquanto a I República teve vitalidade.
P.Porto petrusport@hotmail.com
P.Porto,
Agradeço as interessantes informações que aqui deixou sobre a 1ª República mas por mais caótica que ela tenha sido, isso não suaviza o fracasso da monarquia constitucional.
Comentar: