Caro Luís Bonifácio, tenho que confessar que não sou um conhecedor profundo da época conflituosa aqui em análise mas os quatro erros por si apontados, até à apresentação de outros argumentos, não constam do texto em questão. Analisemos pela mesma ordem os ditos lapsos:
Ultimato: Não duvido da propaganda republicana demagógica a que se refere e também sou da opinião que a D.Carlos não lhe restava outra saída do que aquela que acabou por tomar. A mensagem que quis passar é que Portugal, embriagado pelo passado, sonhava com um Império africano de costa à costa sem capacidade para o consolidar, enfrentou os interesses de uma Nação bem mais poderosa que manifestou desde a primeira hora ser contra esses planos, depositando excessiva confiança num acordo com duas nações (França e Inglaterra) sem interesses directos na região, a não ser, talvez, provocar a Inglaterra. A patriótica precaução real a que se refere teria sido bem melhor aplicada uns anitos antes.
Os Iates Amélias: as fontes que consultei sobre este assunto eram algo vagas e confesso que hesitei em incluir este argumento no post, soava um pouco a mexerico. Mas aproveitando os novos dados que nos dá a conhecer pergunto porque será que o Rei teimava em comprar iates pequenos (suponho que pelo menos o II era maior do que o I e o III maior do que o II), ainda por cima de manutenção cara. Depois, não estou a ver o Rei a navegar sem o mínimo conforto ou sem espaço para os seus convidados. Tenho algumas dúvidas quanto a essas reduzidas dimensões mas tenho que admitir que não as conheço. Depois pequeno não é sinónimo de barato (também desconheço os preços). A ideia do Amélia multi-funções não me parece má e o Rei também não saiu nada prejudicado, um barco bem maior e ainda tinha três meses por sua conta.
Adiantamentos à Casa Real: o Luís se reparar na frase a que me refiro aos Adiantamentos à Casa Real encontrará a seguinte sequência de palavras “insensibilidade política” a propósito da forma incendiária como esta questão foi resolvida. Parece que na altura não se sabia bem o que era a Inflação e como tal a verba real há muito que se mantinha inalterável. A actualização seria lógica e inevitável, a não ser, claro, se a verba fosse de um valor demasiado elevado para os cofres de Portugal. O que não me parece lógico é em tempos de dificuldades económicas e de ânimos exaltados, o Rei ser conivente com o perdão total da dívida e não ter procurado negociar uma solução mais consensual como por exemplo uma redução do valor e um pagamento a longo prazo. O perdão total da dívida foi um presente que nem o mais optimista dos republicanos contaria, a tal “insensibilidade política”.
Maioria Republicana: O que o Luís aqui refere em nada invalida o meu texto. A maioria em Lisboa o Luís confirma. O facto de após a proclamação da república, a aderência ter sido unânime em todo o país e de não se terem verificado manifestações contrárias nem por parte de militares, nem por parte de civis, o Luís não desmente. Na minha opinião isso é um forte sinal que o país está descontente com o actual regime. Quanto aos ses relativamente aos resultados de um eventual sufrágio universal em 1910, certezas, certezas, não há, na época não se realizavam sondagens. Talvez a Monarquia vencesse o que não quereria dizer que fosse essa a vontade do país. Sou da opinião que uma lei eleitoral que define o eleitor como todo o cidadão com mais de 21 anos que tenha contribuído com mais de 500 réis em contribuições directas ao Estado ou que saiba ler e escrever, aliada a um interior rural analfabeto, faz com que nessas regiões do País os eleitores sejam pessoas privilegiadas e, digo eu, na sua maioria, simpatizantes com o regime em vigor.
Assim que puder, passarei pelo seu outro blog, para conhecer essas famosas receitas.
Cumprimentos,